A Homossexualidade em Terapia (Klecius Borges)
publicado em 09.05.2017 por anapaulaA Homossexualidade em Terapia
Klecius Borges
Psicólogo pela Universidade Federal de Minas Gerais, pós-graduado pela USP e diversos seminários no Esalen Institute
Em psicoterapia, pacientes enfrentando a questão da orientação sexual, muitas vezes não são capazes de expressar suas angústias de forma direta e objetiva. Essa dificuldade pode tanto ser função de dúvidas e confusão sobre desejos e sentimentos, como também por vergonha ou medo da rejeição por parte do terapeuta.
Para ajudar a essas pessoas a identificar a problemática e facilitar aos terapeutas o acesso ao mundo interno de seus pacientes, descrevo a seguir alguns fatores freqüentemente presentes na dinâmica associada à homossexualidade.
É importante lembrar que são apenas generalizações, e portanto, um mero ponto de partida para uma investigação mais profunda, ou seja, muitos desses fatores podem estar presentes em pacientes não homossexuais.Assim:
Via de regra, o indivíduo homossexual:
– Aprendeu desde muito cedo a sentir-se diferente, sendo essa diferença associada à inferioridade e à menor valia. Esses sentimentos costumam aparecer muito cedo, por volta dos 6 ou 7 anos como resultado da reação negativa dos pais a comportamentos e atitudes que diferem do padrão esperado para o sexo da criança.
– Desenvolveu um alto grau de autocontrole e tende a não confiar em seus próprios sentimentos, o que pode levar a uma forte alienação de si mesmo. Esse autocontrole tem como objetivo evitar qualquer demonstração dos sentimentos verdadeiros e como conseqüência pode levar a uma percepção empobrecida de si mesmo.
– Sente-se só, culpado, envergonhado e com medo de ter seu segredo descoberto e com isso perder o amor e o respeito dos demais
– Tem alta probabilidade de sofrer depressão crônica associada a algum grau de imobilidade, o que pode levar a diferentes formas de dependência química. Essa imobilidade decorre da falta de perspectiva de solução para o conflito interno aliada à impossibilidade de dividir o problema com qualquer outra pessoa.
– Está sujeito a acidentes fatais e suicídio (principalmente adolescentes) por temer ter sua verdadeira identidade revelada e portanto frustrar as expectativas dos pais e da sociedade em geral
– Tem uma história de abusos verbais (podendo vir até mesmo de entes queridos que não sabem sobre sua identidade) e/ ou físicos
– Costuma viver em dois “mundos” simultaneamente.
– Freqüentemente desenvolve uma estratégia para manter uma identidade heterossexual pública. Essa identidade tem como função reduzir o conflito interno, na medida em que possibilita uma dissimulação tanto para si próprio como para os demais
Para o terapeuta heterossexual que deseja atender indivíduos homossexuais de acordo com uma abordagem afirmativa, positiva e aberta, sugiro os seguintes cuidados:
– Procure rever seus próprios preconceitos, fantasias e sentimentos sobre a homossexualidade
– Se o paciente apresentar alguma patologia, é a patologia que deve ser examinada, não a homossexualidade.
– Cuidado com os estereótipos
– Lembre-se que o paciente espera de você acolhimento, apoio e principalmente respeito
– Tenha em mente que o paciente homossexual tem, em algum grau, um histórico de opressão
– Procure ficar atento às dificuldades do paciente em expressar raiva e lidar com sentimentos eróticos
– Esteja preparado para ajudá-lo a se livrar de sentimentos de culpa e vergonha
– Aprenda sobre os diferentes estilos de vida homossexual e descubra o que a comunidade local oferece
– Deixe que o próprio paciente estabeleça os limites sobre os aspectos íntimos de sua sexualidade que deseja compartilhar com você.
– Não se esqueça de reafirmar a orientação sexual de seu paciente como manifestação natural de sexualidade humana.
Bibliografia:
Loving someone gay
Don Clark, Celestial Arts, Berkley
COMENTÁRIOS DE PARTICIPANTES DESTA PALESTRA
“Gostaria de parabenizar o espaço Koema* pela iniciativa de propiciar um encontro com pessoas interessantes, inteligentes, onde se é possível trocar e aprender coisas novas. Foi muito bom!”
“Gostei muito por ser uma palestra “bate papo” onde pudemos fazer perguntas e trocar idéias e reflexões. Muito didático e consistente ao trazer sua compreensão dinâmica, seu trabalho e experiências vividas. Parabéns pelo trabalho e pela proposta.”
“Foi muito importante ver um profissional da psicologia acreditando no próprio trabalho com tanta energia. São necessários pessoas e amigos como esta para que as pessoas encontrem seus caminhos.”
“O Papo na Cozinha foi muito importante para minha vida pessoal e profissional, pois propiciou um diálogo extremamente rico, que possibilitou uma nova visão sobre a homossexualidade.”
* Koema foi o primeiro nome do Instituto Gestalt de São Paulo