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Visitando Mitos Familiares: Resgate e Transformação

publicado em 17.12.2018 por anapaula

Visitando Mitos Familiares: Resgate e Transformação
(artigo publicado na revista Sampa Gt nº 9 – 2016)

 Myrian Bove Fernandes

 

A minha bisavó faleceu aos 69 anos decorrente de um ataque cardíaco e um quadro de entupimento das coronárias. Faleceu um mês antes do casamento de sua neta e afilhada que se chamava Myrian.

 

A minha avó faleceu aos 69 anos 15 dias após um enfarte e após alguns anos de sofrimento com entupimento das coronárias e um mês antes do casamento de sua neta e afilhada que se chamava Myrian (tenho o nome de minha tia Myrian).

 

Minha mãe resolveu quebrar esta tradição, este destino ou este mito! Embora tenha herdado a predisposição a altos níveis de colesterol no sangue e de ter tido entupimento de suas coronárias, quando chegou aos 69 anos, em um gesto de “cumplicidade” não explícita, sua neta e afilhada (que já não se chamava Myrian) nem de longe mencionou se casar. Aliás, casou-se mais tarde, comemorando com um jantar, muito íntimo, do qual só participaram pais, irmãos e a avó, com um convite de última hora, sem aviso prévio.

 

Viveu muitos anos mais, foi fundadora do Movimento de Apoio à Integração Social; participou da Comissão de Justiça e Paz; foi fundadora e presidente da Associação de Alunos da Terceira Idade da USP, frequentou grupos de reflexão religiosa, saia, passeava, viajava com os amigos, enfim, levou uma vida ativa por muitos anos apesar das pontes de safena e só nos deixou aos 94 anos! Os tempos mudaram, os recursos hoje são outros e ela, inserida no contexto do seu tempo também mudou a história da família.

 

Segundo Robert Neuburger (1999) “O destino é a representação de um mito, a crença em uma organização oculta que preside o destino dos grupos ou dos indivíduos, do qual é impossível ou muito difícil escapar. Deus, as estrelas, os ancestrais, a “estrutura”, os genes, o vizinho da frente… tudo pode ser suporte, representação desse mito”. (p. 171)

 

Alguns mitos, como este pairam como fantasmas sobre determinadas famílias e precisam ser modificados para que esta família possa manter a saúde. Outros, como a admiração pelo comportamento aventureiro e empreendedor de um personagem significativo como o patriarca da família, são valorizados, inspiradores e promovem a coesão desta família, favorecendo um sentido de orgulho e pertencimento.

 

Castilho, em Neuburger (1999, p.11) afirma que a nossa identidade é construída no nosso pertencimento e a família é o primeiro grupo de pertencimento do indivíduo. “Se o mito é história, ele também é memória e, portanto, transmissão de padrões e regras de relação, do não dito, e, em última instância, da cultura de cada família, suas crenças e rituais”.

Acredito na força de transformação do trabalho com os mitos familiares no atendimento a famílias e casais. Vejo, no consultório, alguns mitos serem desconstruidos, outros ressignificados e outros construídos ao longo de um processo de terapia familiar.

 

Quando aqui falo de mitos refiro-me ao conjunto de crenças e mesmo valores que norteiam as escolhas e interferem no comportamento de uma família.

“Em 1979, David Feinstein utilizou o termo mitologia pessoal para descrever essa construção evolutiva da realidade interior… de cada um”. Feinstein e Krippner (1988) definem os mitos pessoais como o conjunto de crenças que interferem no comportamento e nas escolhas das pessoas. Ciornai (1996) afirma que sempre perguntamos: Como você se sente? Ou o que você está experimentando? Mas a pergunta em que você acredita? é de extrema importância para compreendermos o nosso cliente. Se estendermos esta noção de mitologia pessoal para a de mitologia familiar poderemos entender que se trata do conjunto de crenças compartilhadas pelo universo familiar e, é neste sentido, que determinam as escolhas e o comportamento dos membros desta família.

 

Ao constituir uma nova família, cada um dos membros do casal traz consigo um conjunto de crenças, frutos das mitologias pessoais e de suas famílias de origem. O berço familiar é referência de valores, atitudes, condutas. Os filhos, no decorrer do seu desenvolvimento configuram sua identidade ora aceitando ora se contrapondo à bagagem que recebem de seus pais. Quando adultos, ao formarem uma nova família, constroem sua história e, tendo como pano de fundo seus valores, fazem escolhas que conferem padrões e regras de interação para esta nova família.

 

Andolfi (1983) afirma que a família tem a função de promover o crescimento e a diferenciação de cada um dos seus membros e ao mesmo tempo de garantir a sua unidade e o pertencimento a este grupo social. Acredito que os mitos familiares são fatores que favorecem a construção da unidade e da identidade da família. É muito comum escutarmos as histórias sobre alguns dos antepassados da família que são repetidas ao longo de gerações e reforçam o orgulho de pertencer a esta família. Os ritos muitas vezes sedimentam o mito. Na nossa família, por exemplo, existe o mito da união e, por muitos anos, foi reafirmado praticamente toda semana quando as quintas feiras frequentávamos os almoços de família. Por outro lado, quando um mito se cristaliza e passa a ser a única verdade para a família, dificulta o surgimento de novas possibilidades e a transformação de seus membros.

 

Quando uma família nos procura para terapia muitas vezes está em crise de mudança. Em alguns casos as mudanças são solicitadas por fatores externos a família nuclear como a perda de um avô ou dificuldades financeiras decorrentes da perda do emprego, etc. Em outras situações a crise vem das mudanças internas que ocorrem no seio da família tais como, mudanças decorrentes da evolução natural que ocorre ao longo do ciclo da vida: os filhos adolescentes que procuram outro grupo de pertinência ou namorados com outros valores, a vinda de um bebê ou de uma pessoa que vem morar com a família nuclear por algum tempo ou a saída dos filhos de casa. Outras mudanças podem ocorrer quando um dos membros que assume determinada função que ajuda a manter a família estável e coesa por algum motivo deixa de exercer esta função. Por exemplo se a saúde de um dos filhos inspirasse constantes cuidados de pais que compartilhassem a crença de que é importante serem bons cuidadores, eles permaneceriam unidos enquanto se dedicassem ao filho que necessitasse de sua proteção. No entanto poderia haver uma revolução quando este filho não mais adoecesse.

Mitos e mudanças estão intimamente relacionados, pois o mito é a crença que implica valores e estes interferem na direção que o comportamento vai tomar. Por sua vez, o novo comportamento transforma o mito pois modifica os valores compartilhados por uma comunidade e uma cultura. Em Gestalt-Terapia acreditamos que manter um equilíbrio entre permanência e mudança está próximo à saúde, pois a permanência é necessária para que se alcance boa qualidade no contato; e se confiamos na teoria paradoxal da mudança é sendo o melhor de quem somos e como somos em cada relação que completamos o ciclo do contato e uma nova figura pode emergir com força, clareza e energia, e este processo flui naturalmente. Assim, o mito cristallizado se distancia da saúde da mesma forma que a mudança exagerada também se afasta da boa qualidade do contato e pode levar a pessoa a adoecer.

 

Muitas destas mudanças provocam conflitos. Crescer na sociedade em que vivemos, muitas vezes depende da capacidade de conseguir equacionar e ultrapassar conflitos. É do senso comum a afirmação de que momentos de crise sinalizam não só perigo como oportunidade de mudança! Crises tanto podem ser frutos de conflitos como podem gerar mais conflitos. É muito frequente o casal ou a família procurar ajuda psicológica nesta situação.

 

Quando a família nos procura a queixa é a figura emergente. Cabe ao terapeuta buscar compreender a família relacionando figura e fundo, este último constituído pelo que chamamos de suporte, ou seja, valores, religião, mitos, crenças, tabus assimilados ou introjetados. Também os recursos e o potencial para o crescimento configuram o fundo.

 

O momento inicial da terapia é de acolhimento. Deixo-me sensibilizar por sua dor e ao mesmo tempo procuro estabelecer fronteiras e uma boa relação que sirva de base para o trabalho. Muitas vezes os membros da família vêm tão tomados por emoções como dor, agressividade, e rancor que o confronto é figura e sendo assim procuro resgatar o todo, que compreende não só a queixa como figura emergente como os recursos que os membros da família dispõem.  Estes podem ser as habilidades que reconhecem uns nos outros, o resgate da sua história retomando o que havia de bom na relação entre eles (como foi que se conheceram, como era quando as crianças eram pequenas). Penso que este momento é importante para que se possa criar um campo fértil para o trabalho. Algumas famílias são cautelosas, percebo que cada um guarda um algo a mais que parece não poder ser explicitado. Isto me faz pensar que estou pisando em terreno delicado talvez frágil, repleto de sensibilidades. Penso que é bom criar muito suporte para o nosso trabalho, ouvindo a todos com atenção e devolvendo a cada um o que percebo como o cerne de sua preocupação e motivação para estar ali. Assim, as figuras poderão emergir com maior fluência o que permite que se arrisquem, acreditando que poderão sim expressar sentimentos e pontos de vista em um ambiente seguro e sem ameaçar a perda da dignidade ou o rompimento da relação.

 

No decorrer do processo terapêutico dirijo meu olhar basicamente para a família como todo, como um grupo, um sistema. Elene Kepner, no livro Beyond the Hot Seat, descreve o trabalho com grupos em Gestalt Terapia e menciona 3 níveis que estão sempre presentes. São eles: nível intrapsíquico, inter-relacional e sistêmico. Uma família é um grupo “sui generis” pois seus membros convivem durante um longo período de tempo, constroem juntos uma história, seus membros estão em momentos diferentes do ciclo vital (os pais são adultos e os filhos crianças ou adolescentes) e a prole depende inicialmente dos pais que são os responsáveis e exercem autoridade sobre a mesma em um momento de vida onde as primeiras experiências são marcantes.

Ao estar com a família, portanto, meu olhar abarca a complexidade dos diferentes níveis (intrapsíquico e inter-relacional e sistêmico) que estão em constante movimento ora se tocam, ora se entrecruzam e ora caminham em direções paralelas ou opostas, como que formando redes onde alguns pontos se intercomunicam ou se comunicam com o ambiente exterior. Estou falando da complexidade do sistema familiar que requer do terapeuta atenção constante com um olhar que se alterna entre ser abrangente e focal, próximo e também um pouco mais distanciado para que possa melhor enxergar o todo.

É importante também considerar o momento em que a família se encontra, pois a cada etapa da vida os mitos podem ser questionados e atualizados. Assim Cerveny, C.M. O e Berthoud, C.M.E. (Em Osório e Valle e cols., 2009, p>25) relatam estudos e pesquisas que apontam os estágios importantes na vida familiar. Citam Mac Goldrick e Carter que propõem seis estágios no ciclo de vida familiar: “1. O lançamento do jovem adulto solteiro; 2, o novo casal; 3. Tornar-se pais; 4. O sistema familiar na adolescência; 5. Lançando os filhos e seguindo em frente; 6. A família no estágio tardio da vida.

Segundo as autoras, os primeiros estágios contemplam a fase da aquisição na qual os membros da família se empenham em definir um modelo próprio de família, em estabelecer e atingir os objetivos comuns, e na aquisição da parentalidade que representa qualidade de vida, crescimento profissional, força econômica, meios para a educação entre outros. Na fase adolescente existe uma tendência a todos adolescerem. Os pais se preocupam também com a aparência física, “a hierarquia da familia fica dissolvida entre pais e filhos” (ibidem, p.26) Apontam que também acontece maior flexibilização de valores e normas de conduta. A fase madura compreende a preparação para a aposentadoria, casa ora mais vazia e mais calma, ora cheia e movimentada com a presença de genros, noras, netos e agregados. São importantes os cuidados com os idosos da família e com a saúde. Na fase última a vida transcorre quase como uma colheita do que foi plantado anteriormente. Talvez a viuvez seja o processo mais difícil vivido neste momento.

De qualquer maneira o momento que a família se encontra no ciclo vital é o pano de fundo do terapeuta. O mesmo lugar cabe a identificação dos mitos que são compartilhados pelos seus membros. O estudo do genograma, narrativas e as constelações familiares, álbuns de família, e similares são excelentes recursos para entrarmos em contato com os mitos e valores desta família que nos procura.

Quais são os limites mitológicos que foram transgredidos! Existem padrões de comportamento que se repetem! Quais são as cristalizações!

 

Aos poucos a família vai conseguindo aprimorar a comunicação entre seus membros. Percebo-me facilitando este processo quando valido as diferenças que existem entre eles; faço pontuações ou redefinições que os auxiliam a ampliar ‘awareness” e perceber que é possível haver diferentes pontos de vista e várias alternativas para equacionarem uma questão; procuro encorajar o respeito pela pessoa do outro mesmo que denuncie o quanto determinado comportamento pode ser disfuncional.

É neste momento que é possível ouvir sobre as crenças e valores que cada um traz consigo. Ao surgirem os diferentes pontos de vista ficam evidentes os conflitos que podem gerar. É frequente o choque entre as gerações. Hoje, com a juventude estendida vejo por exemplo muitos pais se queixarem que os filhos não se empenham em assumir um trabalho, permanecem na casa dos pais sem falar em morar em casa própria, casamento ou filhos. Neste caso o mito que sustenta a posição dos pais pode ser o de que têm como missão cuidar dos filhos de modo a que venham a constituir uma nova família. Por outro lado, o filho pode estar sintonizado com a sua geração e acreditar que é importante viver muito bem a vida de solteiro pois assim não se arrependerá ao perder a liberdade quando assumir o compromisso de formar nova família. Nosso trabalho consiste em ouvir a cada um, identificar a necessidade, desejo ou valor que sustenta cada posição. Compartilhar as diferentes crenças pode ajuda-los a compreender uns aos outros e a confirmar a posição de cada um.

Faço a seguir uma pequena descrição que pode ilustrar a importância do trabalho com mitos durante uma sessão de terapia familiar:

Se o mito que norteia os pais for, por exemplo, o de que o esforço, a disciplina e o empenho são fatores essenciais para ter sucesso profissional (pois foi desta maneira que construíram seu patrimônio e o mesmo fizeram seus pais, etc.), podem entrar em ansiedade quando veem seus filhos desempregados, dormindo até tarde em algum dia durante a semana, sem participar de todas as atividades propostas pela universidade que frequentam. Um dos filhos por sua vez, pode trazer o mito de que o mais valioso é levar uma vida saudável.  Coerente com este mito acredita que é necessário selecionar os alimentos que ingere, as atividades que quer frequentar, buscar uma regulação para o sono que contemple escolher um dia para dormir até mais tarde quando na véspera teve que responder à uma demanda maior, ou experimentar participar somente das atividades oferecidas pela universidade que atendam à interesses específicos pois desta forma seu nível de concentração e manutenção da atenção conferem melhor qualidade ao seu aproveitamentos do curso.

Enfim, posições tão diferentes fundamentadas em crenças tão diferentes podem trazer pensamentos tais como “estou sendo usado ou explorado”; “meu papel está sendo somente trazer o dinheiro para casa”, por parte dos pais e “eles não valorizam nada do que eu faço”, “parece que sou um estorvo na vida deles”, por parte do filho. Ao reconhecer os diferentes mitos que norteiam as escolhas de cada um, podemos acolher e validar os diversos sentimentos que acompanham as diferentes interpretações que cada um dá ao mesmo fenômeno, e juntos revisar e ressignificar os mitos para a situação atual.

Outro exemplo significativo pode ocorrer em famílias onde os filhos são adotivos. Nelas é muito comum encontrarmos o mito, geralmente não explícito, do fantasma do abandono e da rejeição. Quando as crianças são pequenas tudo vai bem e os pais ficam felizes em protegê-las. Quando ficam adolescentes muitas vezes se contrapõem aos pais, transgridem limites, e os pais, competentes para tantas coisas, desesperados, não sabem o que fazer. Se o mito compartilhado por eles é de que devem proteger seus filhos a qualquer custo para que não corram o risco de sentirem-se novamente abandonados ou rejeitados farão qualquer negócio para não correr o risco do rompimento. Ora, como o confronto pode levar ao rompimento, ficam paralisados.

Redefinir este mito penso que é valorizar a intenção ou o desejo de proteger os filhos de uma dor muito forte. É necessário reconhecer que rejeitar determinado comportamento do filho e dos pais é diferente de rejeitar o filho, e não significa rejeição ou desejo de abandono assim como colocar limites com a autoridade que a função de pais lhe outorga não é mandar o filho para fora de casa. Assim, há mudança de enfoque pois o que estava implícito pode ser explicitado e eles podem experimentar mudar a atitude e desenvolver uma ação concreta que favoreça a convivência.

 

Poderia trazer aqui muitos outros exemplos, mas o importante é salientar que o trabalho com os mitos familiares pode ampliar a compreensão do terapeuta e trazer elementos que favorecem a possibilidade de transformação no seio da família. A Gestalt-terapia, por valorizar a relação dialógica entre cliente e terapeuta traz a marca do respeito, empatia, qualidade da presença, inclusão e confirmação para o setting terapêutico. Somos facilitadores, “parceiros inter humanos” (no dizer de alguns Gestalt terapeutas como Alfonso Lisboa, 2003) e é nesta condição que compartilhamos a nossa experiência de conhecer.

 

Construir mitos, proporcionar rituais que caracterizam os mitos, é fundamental para criar pertencimento e projetos para a vida.

 

Quero finalizar lembrando que a familia, por sua vez, também está inserida no campo mais amplo do contexto social e participa ora contribuindo para as transformações que ocorrem no ambiente biossocial ora sendo afetada por uma avalanche de mudanças que trazem conflitos, questionamentos e novas interferências. Assim acontece um processo de lapidação mútua entre família e sociedade na construção de novos comportamentos e novos costumes.

O psicólogo quando trabalha com famíllias, interage nesta intersecção e está disposto a lidar com múltiplas variáveis e com a complexidade deste momento crucial.

Hoje temos acesso a qualquer informação. Frutos de uma sociedade capitalista, somos bombardeados a todo momento por anúncios sedutores que instigam à criação de novas necessidades. Atingimos um avanço tecnológico tal que nos permite comunicação rápida e precisa a qualquer momento, de tal modo que experimentamos façanhas tais como um médico nos Estados Unidos ser capaz de interferir em uma cirurgia que está sendo executada em São Paulo. O mundo hoje e’ uma aldeia global e e’ plano, na acepção de Thomas Friedman (200_). Permite, por exemplo, que um matemático na Índia processe os dados para uma declaração de imposto de renda de um americano, a um preço bem mais razoável do que ele pagaria se contratasse os serviços de um contador compatriota, e ainda, o indiano pode fazê-lo enquanto o americano está dormindo.

 

São tantas as transformações que não caberia aqui enumerá-las. Como mencionei acima, a Família participa ativamente na construção destas novas perspectivas e ao mesmo tempo e’ afetada pelas interferências das mudanças que ocorrem em nossa cultura. Os anais do V Congresso Brasileiro de Direito ‘a Família trazem a discussão de temas que indicam as profundas transformações que ocorrem nas famílias hoje: Mediação Familiar; Disciplina Jurídica da Autoridade Parental; Fecundação Artificial Post Morten e o Direito Sucessório; Famílias Simultaneas e a Monogamia; A Escalada do Afeto no Direito de Família; Ficar, Namorar, Conviver e Casar; Embriões Excedentários e a Lei da Biossegurança; As Famílias Pluriparentais ou Mosaicos; Família Isossexual; Compartilhando a Guarda no Consenso ou Litígio; Incesto: um pacto de silêncio; Bioética; Impacto do Projeto Parental na Escolha do Filho; Estatuto do Idoso; Enfim, estes, além de outros, são os aspectos teóricos, práticos e polêmicos que permeiam o Direito de Família.

 

Vivemos em um mundo superpopuloso, marcado por mudanças que a todo momento nos surpreendem.

Viver neste momento histórico é ao mesmo tempo maravilhoso e aterrorizador. O mesmo fato que encanta, assusta. A mesma mão que acolhe, repele. A mesma inovação que cura pode assassinar!

Na perspectiva sistêmica, qualquer alteração no campo favorece alterações no campo maior. Neste sentido a interferência do psicólogo não se restringe ao âmbito familiar e penso que é nossa responsabilidade tomar nossa parte na evolução social.

Há muito tempo atrás, ao ouvir uma palestra proferida por Byghton encantei-me com suas palavras que, embora eu possa tê-las deturpado ao longo do tempo, afirmavam que a sociedade moderna teve seus fundamentos nos princípios da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Segundo ele, o Capitalismo contemplou a Liberdade; o Comunismo contemplou a Igualdade. Falta agora procurarmos uma integração, pois os dois regimes se mostraram inadequados para a natureza humana quando levados às suas últimas consequências. Cabe-nos criticar, destruir o formato original, reorganizar, assimilar o que mostrou ser bom e descartarmos o que não trouxe benefícios, criarmos novas possibilidades, enfim, voltando a Byghton, cabe agora contemplarmos a Fraternidade.

 

 

 

 

Penso que estamos aqui em uma grande família! Viemos para trocar experiências, reflexões e porque não, rever e reformular em que acreditamos. Reconhecermos nossas afinidades, diferenças, mas isto nos dá um sentido de identidade e, sobretudo de pertencimento à “comunidade gestáltica”. O congresso pode ser o ritual que concretiza e consolida o mito de que é importante trocar experiências e pareceres para desenvolver o ofício de ser Gestalt terapeuta.

 

Muito obrigada!

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ANDOLFI, M.; A terapia familiar. Lisboa, Coleção Veja    Universidade, s.d.

CERVENY, C. M. de O.; BERTHAUD, C. M. E.;Ciclo vital da                     família brasileira. in Osório, L.C. e Valle, M. E. P.; et cols.

Manual de Terapia Familiar. Porto Alegre, Artmed, 2009.

CIORNAI, S.; Tocando o fundo: pano de fundo das figuras do nosso viver. In Revista de Gestalt n. 5, 1996, São Paulo, Departamento de Gestalt-terapia do Instituto Sedes Sapientiae, 1996.

FEINSTEIN, D.; KRIPPNER, S.; Mitologia pessoal: a psicologia evolutiva do self. São Paulo, Editora Cultrix, 1988.

LISBOA, A: Curso sobre Fenomenologia ministrado no Instituto Gestalt de São Paulo, 2003, anotações de aula.

NEUBURGER, R.; O mito familiar. São Paulo, Summus, 1999.

ZINKER, J; Em busca da elegância em Gestalt-terapia.São Paulo, Summus, 2001.

 

NOTA: Trabalho apresentado no VII Congresso Internacional de Gestalt no Rio de Janeiro, 2000. Revisado para esta publicação.

 

 

 

 

 

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